terça-feira, 5 de agosto de 2008

Juventude e a participação política - Isaac Melo

Juventude não é apenas uma etapa da vida, mas uma força renovadora e um estilo de existência. Afinal, não há sociedade sem jovens, pelo menos numa sociedade equilibrada. O papel do jovem sempre foi preponderante na história sócio-política do homem e constituiu fator imprescindível nas transformações sociais. E, mais precisamente, no Brasil, por detrás das grandes lutas sociais encontramos a figura imponente do jovem. No entanto, há quem veja a juventude com certa desconfiança, dado que ela está sempre em transformação, num momento de transição na vida pessoal, o que implica estar aberto a várias alternativas. Mas a etapa de juventude é um momento privilegiado para o despertar político, e que será determinante na formação do futuro homem da pólis e na construção do cidadão responsável pelos rumos da sociedade.
No seu livro O Estudante e a Transformação da Sociedade Brasileira ( São Paulo: Nacional, 1965), a socióloga Marialice M. Foracchi afirma que cada sociedade constitui o jovem à sua própria imagem, isto é, as representações que valorizam e as manipulações que estimula tendem, no geral, a fazê-lo agir dentro de limites que ela mesma estabelece e que são os limites da sua preservação. Para ela, a pressão reiterada da sociedade sobre o jovem se contrapõe à pressão insistente do jovem sobre a sociedade como se, num equilíbrio de forças, ambos se conjugassem num esforço de autopreservação. Dessa forma, chega um momento em que juventude e sociedade se chocam, pois nem sempre a sociedade é capaz de cumprir com tal compromisso e a juventude representa, efetivamente, uma força dinamizadora do sistema social que, associada a outras nele operantes, acaba por transformá-lo.
Diante disso, cabem-nos duas indagações relevantes: que imagem a sociedade está formando no/e do jovem? E que imagem o jovem tem ou faz da sociedade? Pois a sociedade pode ser reflexo da juventude, mas não o contrário, não nesse modelo de sociedade que temos. Por isso, esse “parto” da juventude em relação à sociedade se faz necessário. Não como forma de perda, mas como superação da alienação. À medida em que o jovem tem consciência da sua condição de alienado, poderá adquirir mecanismos que possam ultrapassar essa condição, e assim, conseqüentemente, chegar à autonomia. Um desses caminhos é a participação política. É dessa tomada de consciência diante das injustiças impostas pela sociedade que começam a surgir as mudanças.
A própria história do Brasil está marcada pela participação política da juventude. Basta lembrar a luta abolicionista levantada pelos jovens universitários, bem como o grande poeta Castro Alves, ou mesmo Rui Barbosa e Joaquim Nabuco; ou na inserção da juventude na escolas militares, o que mais tarde resultou no movimento chamado Tenentismo. Dela saíram lideranças que marcaram aquele século e ajudaram a dar-lhe uma feição nova, como Luiz Carlos Prestes (líder da Coluna Prestes), Siqueira Campos e tantos outros; também a luta da União Nacional dos Estudantes (UNE) que teve um papel relevante no processo de resistência e luta pela redemocratização do Brasil, principalmente no período militar de 64; e os jovens das “diretas já” e os “caras pintadas”.
Desta forma, ao contrário daquilo que somos levados a pensar, a juventude está sempre mostrando sua disposição para lutar por ideais que ultrapassam seus interesses imediatos. A participação do jovem na política mostra que é um momento privilegiado de formação de quadros para a vida futura da sociedade, tanto é que a própria sociedade necessita dessa participação e intervenção do jovem, pois é assim que ela renova seus quadros dirigentes. Sem essa presença do jovem no meio político, poderemos ter uma sociedade desequilibrada. A presença dos jovens nos movimentos sociais é de certa forma, uma “escolinha” de formação, onde se preparam os futuros governantes e lideranças. Grandes líderes brasileiros estiveram engajados quando jovem em movimentos seja estudantil, artístico, literário ou mesmo religioso, como é o caso da Ação Católica, precursora da UNE, e uma das primeiras a organizar a juventude no Brasil, que contou com grandes líderes como Alceu Amoroso Lima e D. Hélder Câmara.
Os jovens que participam ativamente de algum movimento social acabam com freqüência por ocupar posições de relevo na sociedade que, por vezes, nascem desses movimentos. Um detalhe interessante de notar é que a juventude é uma espécie de “termômetro” social, onde o grau sobe ou diminui conforme o engajamento do jovem. Uma sociedade em que não há manifestações por parte da juventude, seja no teatro, em grupo de jovens estudantis, religiosos, partidários etc, implica sinal de alerta. Ou todas as coisas andam muito bem ou estão muito mal. Juventude organizada e consciente termina sempre em renovação, transformação. Enquanto que juventude alienada reproduz o modelo de sociedade que está aí, e que perpetua as mesmas injustiças de sempre.
Para outros a juventude esfriou. Já não têm ideais nem utopias, enveredaram-se pelo caminho do consumismo e foram incorporados pelo sistema que os absorveu. No entanto, a juventude tem mostrado uma outra realidade. Mesmo que não seja nas ruas e nem pela luta armada como antes, os jovens continuam se manifestando perante a sociedade, seja pela maneira de se vestir ou mesmo pela atuação direta na política. O próprio silêncio do jovem se torna também uma forma de protesto. Não temos que comparar os jovens de ontem com os de hoje, com certeza foram diferentes, o momento e o espaço eram diferentes, e tiveram uma atuação tão importante quanto os nossos jovens atuais.
Citando novamente a socióloga Marialice Foracchi, menos que uma etapa cronológica da vida, menos do que uma potencialidade rebelde e inconformada, a juventude sintetiza uma força possível de pronunciar-se diante do processo histórico e de constituí-lo, engajando-se. Por isso, juventude e história são entidades que se confundem enquanto manifestações do novo. Ela salienta ainda, se, como dizem, a juventude é manipulável, isto equivale admitir que ela é flexível e que sua fraqueza, é na verdade a sua força. Pois, ao estar sempre revendo os fatos e seus conceitos, e levantando novos questionamentos, está sempre criando novas possibilidades e, conseqüentemente, se renovando e renovando o meio em que atua.
Por isso, essa exigência cada dia mais acentuada em cobrar da juventude a participação na vida política, não que a sociedade esteja mais preocupada com ela, mas porque o seu futuro depende deles também, seja para a sua perpetuação ou para a sua renovação. Desta forma, em vez dos jovens se tornarem instrumentos de diversos poderes manipuláveis pela sociedade ou sistema dominante, tornam-se pelo engajamento político, pela visão crítica e pelo anseio de autonomia, o porta-voz insistente de todas as reivindicações e o denunciador implacável de todas as formas de opressão.
Graduando em Filosofia pela PUCPR e seminarista Marista.

FONTE: Site Oficial de Tarauacá - ESPAÇO JOVEM



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